Juary, o menino artilheiro da Vila.
Juary
Jorge dos Santos Filho nasceu em 16 de junho de 1959 na cidade
fluminense de São João de Meriti. Quando moleque dividia seu tempo entre
bater bola na equipe amadora do Pavunense e trabalhar como auxiliar
administrativo no escritório do cunhado. Eram tempos difíceis, quando
chegou, até mesmo, a presenciar a morte do tio em sua própria casa,
executado por policiais que buscavam capturar uma quadrilha de bandidos.
Por conta disso, embora tivesse apenas 16 anos, aceitou de imediato o
convite feito para fazer testes no Santos Futebol Clube. A viagem de
ônibus, já tinha data marcada para retorno, no entanto, Juary tinha
outros planos.
Após
o fim da carreira do Rei Pelé, ao menos com a camisa do Santos, em
1974, os dirigentes do clube passaram a identificar que o futuro da
equipe estaria no uso dos jogadores mais novos, pertencentes da base do
clube, uma decisão que reina até os dias atuais. Foi esta estratégia que
permitiu que atletas, como Juary, fossem “recrutados” de várias cidades
brasileiras, para formar uma geração de jogadores santistas que ficou
conhecida como a dos “Meninos da Vila”.
Ainda
em 1976, vestiu pela primeira vez a camisa de titular da equipe,
inicialmente como ponta direita e posteriormente como centroavante, após
a chegada de Nilton Batata, vindo do Atlético Paranaense. Embora
contasse com o apoio da diretoria, a jovem equipe santista liderada por
nomes como Clodoaldo e Ailton Lira não conquistava títulos, o que
começou a criar apreensão junto aos seus torcedores.
Tudo
mudou, no entanto, com a chegada do técnico Chico Formiga, que no
começo de 1978, não apenas confirmou a titularidade de Juary, bem como
trouxe para a equipe principal, outros jovens talentos, tais como Pita e
João Paulo. Embora fosse franzino para ser centroavante, Juary era
muito rápido e um finalizador implacável, o que aliado a um ótimo senso
de posicionamento, fez dele um dos grandes atacantes de sua época.
Os
Meninos da Vila fizeram história ao conquistar, de forma brilhante, o
título paulista de 1978, ao levar a melhor frente ao São Paulo nas
finais. Aliás, o tricolor, em especial o seu goleiro Valdir Peres, era a
vitima favorita de Juary, que costumava fazer muitos gols nos clássicos
San-São (Santos x São Paulo), o que sempre era acompanhado de uma
inusitada, que virou tradicional, comemoração que consistia em uma
corridinha ao redor da bandeirinha de escanteio. Juary foi artilheiro
desta competição com 29 gols marcados, o que lhe valeu a convocação para
a seleção brasileira, onde estreou, marcando gol, no empate por 1 a 1
frente a seleção baiana em 5 de julho de 1979. Também atuaria na Copa
América daquele ano.
A
mesma sorte e competência que Juary costumava ter frente ao São Paulo,
não se repetia frente ao outro rival, o Corinthians, equipe contra a
qual jamais levou a melhor, enquanto vestiu a camisa santista. A verdade
é que o Santos ficou sem vencer o clássico alvinegro entre 13 de junho
de 1976 e 23 de outubro de 1983. O pretexto da falta de gols nestes
confrontos acabou sendo um dos fatores que provocaram a sua venda para a
equipe da Universidad Autonoma de Guadalajara já no final de 1979.
Ficou
pouco tempo no futebol mexicano, uma vez que foi contratado pela equipe
italiana do Avellino, onde atuou ao longo de duas temporadas entre 1980
e 1982. Ainda muito jovem e sofrendo em um futebol duro e de muita
marcação, ainda defendeu a Internazionale, Ascoli e Cremonese, até ser
contratado pelo Porto em 1985.
Fez
sucesso no futebol português onde conquistou dois campeonatos
nacionais, em 1986 e 1988 e uma taça de Portugal em 1988. Além disso,
teve participação decisiva para a conquista da Liga dos Campeões da
Europa em 27 de maio de 1987 na vitória de 2 a 1 frente ao Bayern de
Munique em Viena. Após estar perdendo a primeira etapa por 1 a 0, o
técnico Artur Jorge, que não pudera contar com o atacante Casagrande,
que estava lesionado, resolveu colocar Juary na equipe no segundo tempo.
Aos 33 minutos, foi dele o passe para que o argelino Madjer marcasse,
de calcanhar, o gol de empate. Dois minutos depois, Madjer devolveu a
gentileza ao brasileiro que marcou o gol do título dos portugueses.
Desde esse dia, Juary se tornou para sempre um dos grandes nomes da
história do Clube do Porto e ídolo de sua torcida.
Após
uma breve passagem por outra equipe portuguesa, o Boavista, voltaria ao
Brasil para defender a Portuguesa em 1988. No ano seguinte, defenderia
novamente a camisa onde tudo começou, a do Santos. Infelizmente, apesar
de ainda ter apenas 30 anos, e a principio, muita lenha para queimar,
Juary não foi nem a sombra daquele virtuoso jogador de outrora. Ainda
atuaria na equipe maranhense do Moto Club e no Vitória do Espirito
Santo, onde encerrou a carreira em 1992.
Juary
foi um atacante prodigioso, cheio de virtudes e que ao sair para o
futebol estrangeiro ainda muito jovem, em um tempo em que os nossos
selecionáveis atuavam dentro do país, fez com que deixasse de ser
lembrado da forma devida. Certamente poderia ter tido uma carreira de
muitas conquistas em nosso futebol.
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