Zico, o goleiro artilheiro, polêmico e lendário
José
Aparecido Rodrigues nasceu na cidade paranaense de Andirá em 09 de
novembro de 1954. Membro de uma família de lavradores trabalhou até os
18 anos nas plantações da família Matsubara, mais especificamente
dirigindo um trator. Ainda criança ganhou o apelido pelo qual passou a
ser conhecido no futebol, Zico.
Tinha
como diversão aos finais de semana, bater bola com seus colegas de
trabalho e tentar marcar um gol em seu pai, José, que era considerado um
dos grandes goleiros da região. Em 1974, a família Matsubara fundou a
equipe de futebol, Sociedade Esportiva Matsubara, cujo principal
objetivo era revelar jovens talentos. Por orientação do pai, foi fazer
testes na equipe para a posição de goleiro. Embora tivesse apenas 1,74 m
de altura, era muito ágil e foi aprovado.
Pelo
fato da equipe do Matsubara, naquele tempo, atuar apenas em competições
amadoras, Zico acabou se transferindo para o Nove de Julho da cidade de
Cornélio Procópio e logo em seu primeiro ano como profissional, fez
parte do elenco que conquistou a divisão de acesso do campeonato
paranaense de 1975. Lá ficou até 1977, quando foi para equipe
catarinense do Marcílio Dias, retornando em seguida para o futebol
paranaense, desta vez para atuar no Toledo.
Em
meados de 1979 foi contratado pelo Cascavel, onde voltou a ser campeão
da divisão de acesso do estadual. O ano de 1980 foi marcante. A equipe
caçula na primeira divisão fez uma grande campanha e deve isso muito as
atuações de Zico. No quadrangular final da competição, em 16 de
novembro, no estádio Theodoro Colombelli, o popular Ninho da Cobra, ao
repor a bola em campo com um chutão para frente, acabou surpreendendo o
arqueiro rival, Joel Mendes, marcando o segundo gol da vitória por 3 a 0
frente ao Colorado. Duas semanas depois, o Colorado precisava golear o
Cascavel por 5 gols de diferença para ser campeão estadual. Chegou a
abrir 2 gols de vantagem ainda no primeiro tempo. Com dois jogadores
expulso, outros dois atletas do Cascavel não voltaram para a partida
após o intervalo. No primeiro lance do segundo tempo, Zico chutou a bola
para fora e caiu ao chão sentindo uma duvidosa contusão. Com apenas 6
atletas em campo, abaixo do numero mínimo, o arbitro Tito Rodrigues
encerrou a partida. A decisão do titulo paranaense foi para os tribunais
e o titulo acabou sendo dividido pelas duas equipes.
Zico
voltaria aos holofotes em 25 de novembro de 1981, novamente em uma
partida decisiva frente o Colorado. As equipes se enfrentavam por uma
vaga na Taça de Prata de 1982. Durante a partida, que acabou 2 a 2, após
um choque com o atacante Freitas, fraturou o braço. Uma vez que as
substituições já tinham sido feitas, Zico permaneceu em campo e foi para
a decisão por pênaltis. Após defender a cobrança batida pelo atacante
Popéia, a disputa continuava empatada. Nas cobranças alternadas, Zico
marcou a sua penalidade e em seguida defendeu, de cabeça, a bola chutada
pelo goleiro Joel Mendes. O arbitro mandou voltar, alegando atitude
antidesportiva. Na nova cobrança, a bola foi batida para fora. A vaga
era do Cascavel.
Em
22 de setembro de 1982, inconformado pelo gol impedido do União
Bandeirante, na derrota do Cascavel por 2 a 1,em partida válida pelo
campeonato paranaense, resolveu protestar com a arbitragem. Ao receber
uma bola recuada, sentou sobre ela. A confusão foi generalizada e acabou
com invasão da torcida rival. Ao final da temporada foi contratado para
atuar pelo Colorado que disputaria a Taça de Ouro, a primeira divisão
do campeonato brasileiro de 1983.
Em
sua primeira partida no estádio do Maracanã, em 2 de fevereiro de 1983,
frente ao Botafogo, após o intervalo da partida, o arbitro, Gílson
Ramos Cordeiro, apitou o reinicio da partida sem notar que Zico ainda
não voltara do vestiário. Ao notarem isso, os atletas do alvinegro
tentaram, em vão, desesperadamente chutar em direção do gol vazio. A
cena do goleiro correndo em direção do gol com a bola já rolando, e
gritando “olha eu aqui, olha eu aqui...”é, sem dúvida alguma, uma das
mais engraçadas da história do maior estádio do mundo. O árbitro parou o
jogo e deu bola ao chão. A partida acabou sem gols e ao final dela,
Zico se dirigiu ao juiz para pedir desculpas pela trapalhada dizendo: “o
estádio é muito grande, por isso é preciso prestar atenção a tudo o que
acontece”.
Embora
tenha feito um bom campeonato com o Colorado, ainda naquele ano foi
vendido ao Pinheiros. Após uma breve passagem no Comercial do Mato
Grosso do Sul, durante o ano de 1984, retornou ao Pinheiros, onde ficou
até 1985, saindo de volta ao Cascavel, onde era considerado um herói.
Com 31 anos, por conta da demissão do técnico Mosquito, e pelo fato de
estar contundido, chegou a atuar como técnico, com a condição de ficar
no banco com o uniforme de goleiro. Não queria passar a imagem que teria
aposentado. Saiu do Cascavel em 1987, contratado pelo CSA de Alagoas.
No ano seguinte defendeu o ASA de Arapiraca. Em 1989 retornou ao
Paraná, para atuar no Grêmio Maringá e encerrar a carreira no Sport de
Campo Mourão em 1990.
Zico
foi um goleiro de momentos únicos, um protagonista em ocasiões
inusitadas, um personagem real que certamente poderia fazer parte de
qualquer lenda que tenha o futebol como plano de fundo.
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