O bom alagoano Peu
Júlio
dos Santos Ângelo nasceu em Maceió, no dia 4 de abril de 1960. Um dos
oito filhos do casal formado por “Seo”Antônio, roupeiro da equipe
alagoana do Centro Sportivo Alagoano, o CSA, e “Dona” Maria, lavadeira
do clube, entrou para a história do futebol com o apelido de Peu. Sua
infância foi vivida praticamente no campo do Mutange, onde o Azulão
treinava e mandava algumas de suas partidas. Durante os jogos costumava
ajudar a mãe vendendo raspadinha e atuando como gandula.
Ainda
com 15 anos passou a atuar nas equipes de base da CSA, onde logo se
destacou por ser um meio campista habilidoso, veloz e que avançava ao
ataque com grande facilidade. Chegou à equipe principal com apenas 17
anos e logo passou a ser chamado de Pelezinho. Graças ao jornalista
Marcio Canuto, sabedor sobre o quanto o peso deste nome poderia
atrapalhar sua carreira, o apelido logo foi deixado de lado. A excelente
campanha da equipe em 1980, quando foi vice-campeã da Taça de Prata,
atual Série B do campeonato brasileiro, e campeã alagoana, galgou Peu à
condição de maior ídolo da torcida azulina. Dos rivais chegou a ganhar o
apelido de “Demônio Preto”. Toda esta badalação acabou chamando a
atenção do então técnico, e ex-jogador, Orlando Peçanha, que o indicou
ao Flamengo. O interesse rubro negro acabou provocando a realização de
uma pesquisa de opinião pública promovida pelo jornal local Tribuna de
Alagoas, para saber se o craque alagoano deveria seguir para o Rio de
Janeiro. Para a felicidade de sua mãe, que chegara a pedir ao presidente
do CSA, João Lyra, que “pelo Amor de Deus” vendesse seu filho, seu
destino foi a Gávea.
Atuar
no Flamengo era a concretização do sonho de seu falecido pai, que fora
fã de Dida, um dos grandes nomes da história da equipe carioca e que
também iniciara a carreira no CSA. Peu chegou ao “Mengo” justamente no
maior ano da história da equipe da Gávea, 1981. Coube a ele substituir o
maior nome rubro negro de todos os tempos, Zico, que defendia a seleção
brasileira durante as eliminatórias para a Copa do Mundo de 1982,
durante o começo do campeonato brasileiro daquele ano. Estreou em 28 de
janeiro na vitória por 2 a 0 frente ao Sampaio Corrêa no Maracanã. Com o
retorno do Galinho, passou a ser utilizado como opção na linha de
ataque. Embora não tenha se firmado como titular, o ano foi muito
promissor para o atacante que conquistou a Taça Guanabara, o Campeonato
Carioca, a Taça Libertadores e o Mundial Interclubes.
Além
de sua habilidade, outra característica marcante em Peu era a sua
ingenuidade, o que, somado com sua gagueira, o fazia ser a vitima
preferida das brincadeiras de seus colegas de time. Durante a viagem de
avião entre Los Angeles e Tóquio, onde o Flamengo decidiria a final do
Mundial contra o Liverpool, Zico e Junior se dirigiram a ele e
apresentaram um documento onde estavam listados todos os nomes dos
atletas que possuíam bigode. Alertaram Peu, que em sua foto no
passaporte ele estava sem bigode, e que pelo fato do seu nome não estar
no documento, ele teria problemas para entrar no Japão. O atacante se
desesperou pela possibilidade de ser mandado de volta ao Brasil. Minutos
depois, coube ao comandante do voo continuar com a brincadeira o
chamando pelo alto falante: “Jogador Peu, por favor, se dirija a cabine
de comando” Chegando lá, o comandante o alertou do “problema” e lhe
entregou um barbeador e um creme, para que retirasse o bigode.
Agradecido, Peu se dirigiu ao toilette. Ao sair, se deparou com quase
todos os seus amigos rubro-negros que não aguentavam de tanto rir.
O
ano de 1982 começou com mais uma conquista, a do campeonato brasileiro,
com participação decisiva de Peu que após longo período sem atuar, ao
substituir Nunes, marcou um dos gols da vitória rubro-negra por 2 a 1
frente ao Guarani, em partida, realizada no Maracanã, válida pelas
semifinais da competição, em 11 de abril. Naquele mesmo jogo, no
entanto, sofreu uma distensão muscular que o afastaria dos campos por um
longo tempo. Seu retorno foi demorado e as oportunidades no time
titular, no entanto, se tornaram cada vez mais raras. No começo de 1983,
acabou envolvido em uma troca, por empréstimo pelo meio campista Lino,
do Atlético Paranaense para a disputa do campeonato brasileiro daquele
ano.
Peu
teve boas atuações na equipe do Furacão, comandada pelo Casal 20, Assis
e Washington, que chegou as semifinais do campeonato brasileiro, sendo
eliminada justamente pelo Flamengo. De volta a Gávea, com apenas 23 anos
e muito mais experiente, a saída de Zico para a Udinese, em junho de
1983, talvez pudesse significar novas chances para Peu, no entanto, a
instabilidade da equipe carioca acabou contribuindo para a sua saída,
após a goleada de 6 a 2 sofrida frente ao Bangu em partida válida pelo
campeonato carioca em 7 de setembro. Foram 59 partidas com a camisa
rubro-negra e 11 gols marcados.
Poucos
dias depois, em 25 de setembro, já estrearia no Santa Cruz em um
clássico frente ao Náutico, vencido pela equipe tricolor por 1 a 0. Peu
conquistaria o titulo pernambucano daquele ano, na épica vitória por 6 a
5, em disputa por pênaltis, frente a equipe alvirrubra. Ficou pouco
tempo no Arruda, e logo no começo de 1984 foi contratado pelo Nacional
de Manaus para participar a Taça de Ouro, o campeonato brasileiro. A
aventura no Amazonas foi ainda mais curta, e naquele ano, chegaria a
Ribeirão Preto, mais precisamente no Botafogo. Acabou se firmando no
clube e durante 4 temporadas foi titular da equipe na disputa dos
campeonatos paulistas, atuando com grandes jogadores, tais como Raí,
Marco Antonio Boiadeiro e Mario Sergio. Durante este período chegou a ir
jogar no futebol mexicano, sendo campeão nacional pelo Monterrey em
1986. Passaria ainda pelo Cruzeiro, em 1989, e São José, em 1990, antes
de voltar a atuar no futebol alagoano, primeiro pelo Comercial de
Viçosa, e posteriormente, por quase três anos, onde tudo começou o CSA.
Terminaria a carreira por lá, aos 34 anos, sendo campeão alagoano em
1994.
Peu
foi um jogador vencedor, que nasceu dentro do futebol, em uma família
muito simples que sempre viveu do esporte, e que ganhou o mundo,
literalmente, ao fazer parte de uma das maiores equipes da história do
futebol mundial, sem que em momento algum, no entanto, chegasse a perder
a sua ingenuidade e verdade.
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