segunda-feira, 14 de abril de 2014

Alejandro Sabella: "Messi é insubstituível para a Argentina"

Alejandro Sabella: "Messi é insubstituível para a Argentina"

Alejandro Sabella já cumpriu o primeiro objetivo que traçou em agosto de 2011, quando assumiu o cargo de técnico da seleção argentina: classificar o país para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Agora, no entanto, enfrentará um desafio mais difícil ainda: o de pôr fim à seca de 21 anos sem títulos para a bicampeã mundial.
Sereno e reflexivo, Sabella conversou longamente com o FIFA.com a dois meses da estreia contra a Bósnia e Herzegovina. Nesta primeira parte da sua entrevista, o técnico não teve problemas em compartilhar sentimentos íntimos, analisar uma eventual ausência de Lionel Messi e assumir certas obrigações do cargo que ocupa.
FIFA.com: Falando de peito aberto, você está se sentindo mais ou menos ansioso do que imaginava faltando tão pouco para o início da Copa?
Alejandro Sabella: Não sou de pensar em prazos muito longos... Primeiro, me concentrei nas eliminatórias; atingida a classificação, nas duas rodadas que ainda faltavam, contra Peru e Uruguai; a seguir, nos amistosos, no sorteio... É difícil responder. Admito que a ansiedade está crescendo à medida que se aproxima o grande momento.
Fora do âmbito do futebol, você fala sobre a Copa do Mundo com a sua família e amigos?
Pouco. Em casa, tento me abster, e a família me ajuda, porque sabe das pressões a que a gente se submete. Embora me veja trabalhando mais em casa do que quando eu comandava algum clube, me deixa tranquilo. Nos fins de semana, por exemplo, vejo um jogo atrás do outro. A poltrona está afundando mais a cada dia! Em linhas gerais, o mesmo acontece com os meus amigos. Eles sabem que quando estou em casa gosto de relaxar.
Vou lhe citar duas frases muito escutadas ultimamente, para saber como você se sente em relação à seleção: "a Argentina tem um grupo fácil" e "em uma Copa, todos os adversários são difíceis". Qual se adapta mais a este momento?
Na realidade, eu lhe daria uma terceira, que vem a ser um meio termo: somos o nosso principal adversário. Se estivermos bem, poderemos suavizar a dificuldade do grupo. Se não estivermos 100% e concentrados como devemos, todos os adversários serão muito difíceis e o grupo claramente poderá ficar complicado.
Como você acompanha os jogos dos convocados pelos seus respectivos clubes?
Nervoso! Às vezes tenho de dividir com a minha comissão técnica, pois muitos jogos são disputados ao mesmo tempo. Todos nós acompanhamos da mesma forma, torcemos para que não se machuquem. Não que me dê dor de cabeça, mas se vejo um jogador caído já fico preocupado: se ele se levanta rápido, ótimo; se sai, começamos a averiguar o que houve assim que possível, pois, sim, sofro um pouco por eles. A gente torce para que tenham um bom rendimento, mas o mais importante é que não lhes aconteça nada de ruim.
Com esse tipo de tensão, fica difícil curtir o futebol?
Só aproveito um jogo quando nele não há nenhum jogador nosso!
Tendo em conta o risco sobre possíveis lesionados, a pergunta que surge é a de sempre: a Argentina tem um plano B para jogadores como Lionel Messi?
Um plano B sempre é necessário. O que ocorre é que quando se fala de jogadores de tal categoria... Você precisa ter uma lista de possíveis substitutos, mas a realidade indica que, embora às vezes o plano B se aproxime bastante em termos de rendimento do plano A, às vezes isso também não ocorre. É preciso se adaptar.
Você tem alguém preparado para o lugar de Messi?
Jogamos várias partidas sem o Leo, mas ele é um jogador insubstituível. Nenhuma equipe ou seleção do mundo joga igual com ou sem o Messi. Ele tem uma preponderância tão grande que a ausência dele é sempre sentida. Temos de ver como nos acomodaremos se acontecer isso, e nesse jogo pontual, mas tenho uma ideia. Contra a Itália, em Roma, ele e Agüero não jogaram, e conseguimos nos adaptar. Nunca vai ser a mesma coisa, mas podemos repetir aquilo se for necessário.
Como você viveu o processo de recuperação dele após esta última lesão?
Não sofri tanto como quando ele voltou a jogar. Ele ficou aqui por um mês, sendo acompanhando de perto! Voltei a ficar nervoso quando retornou aos gramados...
Dois anos atrás, você comentava com o FIFA.com que aceitava as críticas, pois elas lhe ajudavam a "abrir a cabeça". Como reage às opiniões negativas sobre a defesa argentina, mesmo ela tendo sido a segunda melhor das eliminatórias?
Não reajo mal, elas são compreensíveis. Quando você compara o potencial ofensivo de uma equipe com o defensivo, a defesa sai perdendo sempre. Devo analisar cada crítica, ver o que posso tirar de proveito para solucionar algum problema eventual. Posso dizer 'isto me serve, isto não', mas não ler nem escutar tudo. Como qualquer um, com o tempo você passa a prestar mais atenção a certas opiniões do que a outras.
Você acha que algumas das críticas sobre a sua seleção são quase que selvagens?
Selvagem é uma palavra muito dura! Isto é a seleção argentina, e o mesmo ocorre no país em nível de clubes: há mais repercussão o que ocorre no River e no Boca do que em outras equipes. Por trás da minha seleção existe um país, no qual cada um tem a sua opinião. São as regras do jogo. Eu já as conhecia antes de assumir a seleção.
Alguns veículos de comunicação coincidem ao pedir constantemente a presença de Carlos Tevez. Como você vê essa situação?
Nesse mesmo contexto, no da opinião dos outros. Como eu disse antes, leio, escuto, vejo e depois tiro as minhas próprias conclusões do caso.
Como você avalia o rendimento dele na Itália?
Não gosto de falar dos jogadores que não estão conosco, me parece o melhor para todos. Nem do Tevez, nem de ninguém, embora entenda que falem mais dele do que de outros.
O que a torcida lhe pede nas ruas?
Saio pouco de casa. Quando saio, vejo a euforia do argentino passional que se vê campeão. Eu nasci escutando que éramos os melhores do mundo quando ainda não tínhamos ganhado nada. É normal, é a nossa maneira de ser. Às vezes, achamos que somos mais do que realmente somos, e a realidade não faz com que ponhamos os pés no chão. A soberba é maléfica, temos de trabalhar com humildade.
Você tem mais medo da soberba dos torcedores ou da possibilidade de fracassar na Copa?
Da possibilidade de fracasso, é claro. O que acontece é que a soberba pode ajudar a perder a noção das coisas, e isso pode levar ao fracasso. Ou talvez chegar a um lugar que para muitos é um fracasso, e para outros não.
Você tem medo do sucesso?
O sucesso pode ser perigoso, é preciso ter os pés no chão. A minha ideia sempre foi a de manter a serenidade na derrota e a humildade na vitória. O melhor, é claro, é ter sucesso e ver como administrá-lo do que lidar com o fracasso.
Você em nenhum momento se deu o direito de pensar no melhor cenário possível?
Deveria pensar, mas acho que não... Talvez alguma vez tenha passado pela cabeça estar disputando a final, mas só por alguns segundos. Diria que quase nada! A realidade me indica que hoje devo pensar em outras coisas.

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