terça-feira, 29 de setembro de 2015

Vitória separatista na Catalunha, um atoleiro para Madri e Barcelona.


O resultado das eleições regionais na Catalunha, com maioria absoluta de deputados para dois partidos separatistas, embora divergentes, põe em um atoleiro tanto o líder catalão Artur Mas, quanto seu arquirrival, o chefe de governo espanhol, Mariano Rajoy, avaliam analistas.
"Estas eleições nos deixam um panorama com muitas, muitas incógnitas", afirma Joan Botella, catedrático de Ciências Políticas da Universidade Autônoma de Barcelona.
Para começar, saber se a coalizão separatista Junts pel Sí (JXS, Juntos pelo sim), impulsionada pelo liberal Mas, que obteve 62 cadeiras em um Parlamento de 135, terá o apoio do outro partido separatista, o anticapitalista CUP, com dez deputados-chave para sua investidura.
"Mas quer (...) proclamar a independência pela mão de um partido de extrema-esquerda que questiona a propriedade privada dos meios de produção?", questionou, em editorial, o jornal espanhol El Mundo.
Para Botella, o dilema talvez seja inverso: "A CUP estaria disposta a votar a favor de um governo chefiado por Mas?", artífice de políticas draconianas de austeridade e membro de uma formação de direita, lastreada por vários escândalos de corrupção.
Jordi Matas, cientista político da Universidade de Barcelona, acredita que o desejo de se separar da Espanha se imporá: "a CUP será muito reivindicativa em sua negociação, mas ao mesmo tempo, vai facilitar claramente o processo para conseguir a independência".
Ainda que Mas, transformado em messias do movimento separatista nos últimos três anos, possa ver sua cabeça rolar.
"Vejo com toda segurança que haverá um governo separatista, o que vejo como menos provável é que seja Artur Mas o presidente, porque a CUP pôs a condição de que não seja ele", considera Pablo Simón, da Universidade Carlos III, de Madri.
O que aconteceria se Madri fizesse uma proposta tentadora à Catalunha por maior autonomia para convencê-la a ficar?
"Sabemos por pesquisas de opinião na Catalunha que a maioria dos catalães prefere uma solução deste tipo, inclusive muitos dos que votaram pela independência", diz Botella.
"Uma parte importante dos que votaram na JxS não votou na independência, mas em dar uma bofetada na cara do governo de Madri", concorda o sociólogo José Juan Toharia, presidente do Instituto de pesquisas Metroscopia.
Legislativas espanholas em dezembro
Além disso, para negociar com o governo espanhol, "algumas pessoas teriam que abdicar de seus pontos de vista e poderíamos imaginar muitas tensões dentro do mundo separatista", adverte Botella.
Rajoy "deve reagir com urgência, oferecendo saídas para o diálogo", destaca o jornal de esquerda El País.
No entanto, nenhum dos especialistas acredita que isto ocorrerá até que o executivo de Madri mude em janeiro.
"Acreditamos que o cenário mais provável é a manutenção do status quo até as eleições legislativas do fim de dezembro", considera Jesús Castillo, analista financeiro para a Espanha do banco Natixis.
"Qualquer oferta que fosse feita agora pelo governo de Madri poderia ser vista como uma demonstração de fragilidade e qualquer partido que, da oposição, anunciasse algum tipo de negociação substancial, seria criticado muito duramente", avalia Botella.
"Já estamos em campanha eleitoral espanhola e este não é o melhor momento para estratégias políticas inteligentes", acrescenta.
No entanto, a negativa em negociar com os separatistas catalães, longe de trazer eleitores de outras regiões da Espanha, poderia custar a reeleição de Rajoy, considera Matas.
Com esta atitude, "o governo do Partido Popular conseguiu que o separatismo tenha crescido de forma espetacular nos últimos quatro anos", afirma.
"No conjunto da sociedade catalã existe a sensação de incompreensão e de falta de respeito pelo restante da Espanha", explica o sociólogo Narciso Michavilla, presidente do instituto de pesquisas GAD3.
"Há três anos, o slogan do candidato Artur Mas era 'a Espanha nos rouba'" mas agora "passou para o slogan 'a Espanha nos ameaça e nos insulta'", destaca.
O que leva a um novo questionamento: o governo espanhol tomará medidas judicias contra Mas ou seu Executivo, se este levar adiante o processo para a independência?
"Isto seria a culminação da coleção de erros que houve aqui, seria jogar gasolina na fogueira", conclui Botella.

Nenhum comentário:

Postar um comentário