quarta-feira, 22 de junho de 2016

ENÉAS & DENTINHO,A DUPLA DE ARÉA DA PORTUGUESA EM 1978

O anjo negro, Eneas
Eneas de Camargo nasceu no bairro do Jaçanã, na cidade de São Paulo, em 18 de março de 1954. Filho de Arnaldo de Camargo e Enedina Gomes de Camargo, assim como os irmãos, Edir, Ednilson, Elias e Edméia, recebeu um nome bíblico, no caso de um paralítico que houvera sido curado pelo apostolo Pedro, São Pedro. Quando a família se mudou para morar no Canindé, o menino de ainda 11 anos passou a frequentar a Portuguesa, onde logo começou a fazer parte da equipe de futebol de salão. Atuando como pivô, ao ser vice-campeão metropolitano em 1966, chamou a atenção do técnico da equipe juvenil e ex-atleta da Lusa, Nena, e passou para o futebol de campo.
Aos 16 anos, em jogo treino contra a equipe titular, marcou dois gols, na vitória de 3 a 1 dos juvenis, passando a ser tratado como o “Pelezinho do Canindé”. Ainda amador, estreou na seleção brasileira olímpica em 1971, durante o Torneio Pré-Olímpico de Cali, na Colômbia, juntamente com outros dois estreantes que fizeram história no futebol brasileiro, Zico e Falcão. O título foi conquistado de forma invicta, com Éneas marcando gol na partida final frente o Peru, no dia 11 de dezembro. No ano seguinte, em 1972, assinaria seu primeiro contrato como profissional para atuar na Portuguesa do técnico Cilinho.
Muito habilidoso e com o dom de dar dribles curtos, começou atuando no meio campo, com a função de armar e ajudar na marcação, o que para o técnico Oto Glória, recém-chegado a Portuguesa em 1973, era um grande desperdício, tamanha sua facilidade de chegar à área adversária. Acabou deslocado para atuar mais próximo ao ataque, e como ponta de lança, passou a ser o grande nome da equipe do Canindé, se tornando um dos grandes artilheiros do time.
Após ser campeão da Taça São Paulo de 1973, competição promovida pela Federação Paulista de Futebol durante os 45 dias da excursão da seleção brasileira pela África e Europa, marcando gol na goleada por 3 a 0 frente o Palmeiras no dia 1° de julho, foi a grande revelação do campeonato paulista daquele ano, quando a sua Lusa dividiu o título estadual com o Santos de seu ídolo Pelé, em controversa final realizada em 26 de agosto. Servindo o Exército no 2° Batalhão de Guardas, no bairro do Cambuci, precisava ficar no quartel todos os dias entre às 6:00 e 14:00, o que fez com que desfalcasse a Portuguesa durante algumas partidas do campeonato brasileiro daquele ano. Nos tempos de quartel, brincava que vivia alguns “apuros” por conta das vitórias da Portuguesa frente o Corinthians. Enquanto recebia elogios do Tenente Fernandes, palmeirense, era colocado na cadeia pelo Tenente Landini, alvinegro.
Se algumas equipes já tinham demonstrado interesse em sua contratação, sua primeira convocação para a seleção brasileira principal serviu para aumentar ainda mais este desejo por contar com seu futebol. Sua estreia com a camisa canarinha aconteceu no empate por 1 gol frente a seleção mexicana, em partida amistosa realizada no estádio do Maracanã, no dia 31 de março de 1974. Entrou durante a segunda etapa, no lugar de Mirandinha, mas não convenceu o técnico Zagallo que não o levou para a Copa Mundo da Alemanha. Suas atuações primorosas se revezavam com momentos de certa displicência, o que chegou a passar uma imagem de lento, em acusação injusta, similar a feita a outro fantástico jogador, Ademir da Guia. Ainda assim, o assédio continuava grande e os dirigentes da Lusa se mantinham irredutíveis na decisão de não vender seu principal jogador.
No ano seguinte, em 1975, novamente levaria a Portuguesa as finais do campeonato paulista, desta vez frente ao São Paulo, que levou a melhor na decisão por pênaltis em partida realizada em 17 de agosto, após ser derrotado no tempo normal, por 1 a 0 com gol do próprio Enéas. Em 19 de fevereiro de 1976 comandou a Lusa em mais uma conquista, da Taça Governador do Estado de São Paulo, na goleada frente ao Guarani de Campinas por 4 a 0. Novamente convocado para a seleção, desta vez pelo técnico Osvaldo Brandão, foi titular nas partidas frente ao Paraguai, em 7 de abril de 1976, quando marcou o gol do empate de 1 a 1, e contra o Uruguai, no dia 28, na vitória por 2 a 1. Suas atuações, no entanto, não convenceram o experiente técnico, e Éneas não foi mais convocado.
Continuou na Portuguesa, sempre sendo o principal nome da equipe enquanto esteve por lá, e mantido por dirigentes que não abriam mão de sua permanência no Canindé, o que sem duvida alguma prejudicou muito a sua carreira. Novamente destaque da equipe da Portuguesa que liderou todo o primeiro turno do campeonato paulista de 1980, acabou sendo contratado pela equipe italiana do Bologna, desfalcando a Lusa justamente nas finais do turno. Sua ultima partida com a camisa rubro verde aconteceu em 13 de julho de 1980 no empate por 1 a 1 frente a Internacional de Limeira. Ao todo atuou 376 vezes pela Portuguesa e marcou 179 gols, sendo o segundo maior artilheiro da historia do clube atrás apenas de Pinga, com 190 gols.
Na Europa, o frio e a forte marcação do futebol italiano foram os grandes obstáculos para Éneas, que teve apenas lampejos de craque. Em 5 de outubro de 1980 teve uma atuação primorosa na vitória da equipe por 1 a 0 frente a grande Juventus, em plena cidade de Turim, que seria a campeã italiana da temporada de 1980/81, chegando a sofrer o pênalti que deu origem ao gol de seu time. Ainda assim, muito pouco diante de toda a expectativa gerada. Logo após sua primeira temporada, com 20 jogos disputados e 3 gols marcados, foi negociado com o Palmeiras. Seu retorno ao futebol brasileiro ganhou grande destaque, e foi considerada uma das maiores já realizadas até então. Sua estreia em 19 de agosto de 1981, na derrota por 2 a 1 frente ao Comercial de Ribeirão Preto em partida valida pelo campeonato paulista, no entanto, foi um sinal do que seria sua trajetória no alviverde. Atuando em uma equipe que sequer conseguiu uma vaga para o campeonato brasileiro de 1981 e 1982, uma vez que o campeonato estadual servia de classificação para a competição, e sofrendo com muitas contusões, sobretudo em seu joelho direito, Éneas foi apenas uma sombra do craque que despontara na Lusa.
Ao final de 1983, após atritos com os técnicos Rubens Minelli e posteriormente com Carlos Alberto Silva, que assumira a equipe em 1984, acabou afastado da equipe por quase 8 meses. Deixou definitivamente o alviverde, após 93 partidas e 28 gols marcados, emprestado gratuitamente para atuar pelo XV de Piracicaba. Sua estreia na equipe do interior paulista foi promissora, na vitória por 2 a 1 frente o América de São José do Rio Preto, em 26 de agosto de 1984. Ledo engano. Em claro declínio técnico logo mudaria de ares. Passaria por Atlético Goianiense, Operário de Ponta Grossa e Juventude de Caxias do Sul, até, aos 32 anos, ser contratado pela Desportiva Ferroviária do Espirito Santo, para atuar nas partidas finais do campeonato capixaba de 1986. Em 6 jogos, marcou 6 gols, incluindo o decisivo da vitória por 2 a 1 frente ao Rio Branco, que valeu pelo titulo estadual em 25 de maio. Sua ultima equipe foi o Central Brasileira de Cotia em 1988.
Éneas foi um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro, dono de um talento raro e uma vítima de dirigentes que impediram seu crescimento profissional, em seu maior momento, sob a alegação do amor ao clube. Em outros tempos, sem a legislação vigente, em sua época, referente ao passe dos atletas junto aos clubes, teria sido, como atleta, muito mais do que foi.

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